Os 30 anos do real, a moeda que mudou a economia brasileira e tem rubricas mineiras

Edmar Bacha, um dos idealizadores, conta bastidores do Plano Real; confira a entrevista que abre a reportagem especial sobre as três décadas do real

30/06/2024 17h00

O real foi oficialmente lançado em 1º de julho de 1994

O real foi oficialmente lançado em 1º de julho de 1994, há exatos 30 anos, com a expectativa de dar fim a um longo período de recessão e hiperinflação no país. Ele já chegou com o "peso" de ser a nona moeda oficial do Brasil, desde a Independência do país, e precedido por oito não tão bem-sucedidos cifrões, além de seis planos econômicos emergenciais que fracassaram: Cruzado 1 (fevereiro de 1986); Cruzado 2 (novembro de 1986); Bresser (junho de 1987); Verão (janeiro de 1989); Collor 1 (março de 1990) e Collor 2 (janeiro de 1991). Mas a nova moeda se mostrou forte e conseguiu mudar o Brasil de patamar, controlando a alta generalizada e corriqueira de preços e trazendo estabilidade para a economia.

Rubrica mineira

A rubrica mineira estava na concepção do Plano Real. No lado político, o protagonista da criação da moeda era o então presidente da República e ex-governador de Minas Gerais, Itamar Franco, que escalou os principais nomes para a condução do plano. Do lado econômico e técnico, entre brilhantes e renomadas personalidades, estava o mineiro, de Lambari, Edmar Bacha, economista de grande formação e ex-presidente do IBGE e BNDES. 

O Plano Real foi colocado pela primeira vez no papel no dia 13 de agosto de 1993. Mais exatamente em um papelzinho azul, como relata Bacha. Naquele dia, o presidente Itamar Franco (1930-2011) havia anunciado a demissão de Paulo Cesar Ximenes da presidência do Banco Central. Não avisou o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que havia indicado o economista para dirigir a instituição. No mesmo dia, FHC convocou alguns membros da equipe que faria o Plano Real para uma reunião. Depois, iria conversar com Itamar sobre os rumos da equipe econômica do governo.

"Enquanto esperava a reunião, em uma sala de espera, peguei um papelzinho azul e alinhei um conjunto de pontos sobre como seria o plano (Real) que implementaríamos caso não estivéssemos de saída do governo". Depois da reunião, ele disse que rasgou o "papelzinho". "Era para não vazar para vocês (imprensa)", disse aos risos em entrevista.

O Plano Real, do qual resultou a moeda, foi uma obra coletiva, segundo Edmar Bacha. Além dele, contou com a colaboração de Pedro Malan, Gustavo Franco, André Lara Resende, Persio Arida, Winston Fritsch e outros, sob a coordenação política de FHC, que era o interlocutor dessa equipe técnica com o Planalto.

"O mais importante, após a implantação do real, creio, é o aumento da concorrência (econômica) do país. O Brasil deixou de ser uma economia extremamente fechada e altamente regulada para ser uma economia mais aberta e com um grau de concorrência interna maior. Hoje não é mais tão simples como no passado repassar aumento de custos para preços finais", disse.