Hugo Motta emprega em gabinete da Câmara trio de funcionárias fantasmas

O presidente da Câmara está na Casa desde 2011 e mantém essas funcionárias, com funções incompatíveis com as atividades do gabinete, desde 2017.

16/07/2025 08h00

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), empregou em seu gabinete três funcionárias com rotinas incompatíveis com as funções que deveriam exercer no Legislativo: uma fisioterapeuta, uma estudante de medicina e a assistente social de uma prefeitura na Paraíba.

Todas são contratadas no cargo de secretário parlamentar, com jornada de 40 horas semanais, proibição de exercer outra função pública e sem necessidade de bater o ponto com biometria na Câmara. Uma mora em Brasília e outras duas em João Pessoa, capital da Paraíba.

Motta mandou demitir 2 das 3 servidoras após ser procurado pela Folha de S.Paulo em 8 de julho para explicar o caso. A assessoria do deputado só confirmou a ordem na tarde desta terça-feira (15). As demissões ainda não foram publicadas no boletim da Câmara.

Apenas neste ano elas tiveram vencimentos somados de R$ 112 mil, incluindo salários, auxílios e gratificações. Procuradas, elas se recusaram a dar informações detalhadas sobre os serviços prestados ao gabinete do deputado.

Para revelar a existência dos três casos, a Folha de S.Paulo comparou informações de bancos de dados oficiais, de processos judiciais e de redes sociais, procurou órgãos públicos e teve acesso a documentos dos contratos, além de acompanhar a rotina das funcionárias.

Gabriela Pagidis é fisioterapeuta. Ela atende em uma clínica de Brasília às segundas e quartas-feiras, durante todo o dia. Às terças e quintas à tarde, ela dá expediente em outra clínica no Núcleo Bandeirante, região administrativa do Distrito Federal que fica a 18 km da Câmara.

A informação sobre os horários de trabalho foi confirmada pelos dois estabelecimentos. A jornada de segunda-feira e quarta-feira consta também em sistema do Ministério da Saúde.

Torcedora do Fluminense, ela publicou uma foto em suas redes sociais no dia 1º de julho dentro da clínica, ao lado de uma maca e de aparelhos de fisioterapia, com uma camiseta do time do coração. "Ai como se veste bem para trabalhar?", escreveu, em alusão à vitória do clube no dia anterior.

A Folha de S.Paulo acompanhou sua rotina e verificou que nas terças e quintas de manhã, turno no qual não trabalha como fisioterapeuta, ela vai a uma academia ao lado de casa.

Louise Lacerda, filha do ex-vereador Marcílio Lacerda (Republicanos-PB), do município de Conceição (PB). Ela estuda medicina na Faculdade Nova Esperança, em João Pessoa. De acordo com a instituição, o curso é em período integral e diurno.

Monique Magno, que, além de ter um cargo no gabinete de Motta, é assistente social na prefeitura de João Pessoa (PB) há quatro anos.

A prefeitura enviou à reportagem a folha de ponto de Monique, com carga horária de 30 horas semanais. Mesmo que o acúmulo de funções não fosse proibido pela Câmara, ela teria que trabalhar 14 horas por dia, sem almoço, para cumprir as duas jornadas de trabalho.

Motta fala em cumprimento rigoroso das obrigações

Motta afirmou por meio de sua assessoria que "preza pelo cumprimento rigoroso das obrigações dos funcionários de seu gabinete, incluindo os que atuam de forma remota e são dispensados do ponto dentro das regras estabelecidas pela Câmara".

O parlamentar não informou qual a função das funcionárias citadas e qual seu horário de trabalho.

O presidente da Câmara está na Casa desde 2011 e mantém essas funcionárias, com funções incompatíveis com as atividades do gabinete, desde 2017.

Com informações da Folha de São Paulo